segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Do que os homens andam se esquecendo.....


- Bom dia! - disse ele.
Era um jardim cheio de rosas.
- Bom dia! - disseram as rosas.
Ele as contemplou . Eram todas iguais á sua flor.
- Quem sois? - perguntou ele espantado.
- Somos as rosas - responderam elas.
- Ah! - exclamou o principezinho.....
E se sentiu profundamente infeliz. Sua flor lhe havia dito que era a única de sua espécie em todo o universo.
E , deitado na relva , ele chorou.

E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia! - disse a raposa.
- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - Tu és bem bonita....
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Vem brincar comigo - propôs ele. - Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. - Não me cativaram ainda.
- Que quer disser cativar? - disse o principezinho.
- É algo sempre esquecido - disse a raposa. - Significa " criar laços "...
- Criar laços?
- Exatamente - disse a raposa. - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender - disse o pequeno príncipe.
- Existe uma flor.... eu creio que ela me cativou...
A raposa calou-se e observou por muito tempo o príncipe:
- Por favor....cativa-me! - disse ela.
- Eu até gostaria - disse o principezinho - mas, não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou - disse a raposa. - Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
Assim o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua - disse o principezinho. - Eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis - disse a raposa.
- Então, não terás ganhado nada!
- Terei, sim - disse a raposa - por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vá rever as rosas. assim, compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te presentearei com um segredo.
- O pequeno príncipe foi rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais á minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes ninguém.
- E as rosas ficaram desapontadas.
- Sois belas, mas vazias - continuou ele. - Não se pode morrer por vós. Um passante qualquer sem dúvida pensaria que a minha rosa se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que todas vós, pois foi ela quem eu reguei. Foi ela que eu pus sob a redoma. Foi ela quem abriguei com o para-vento. Foi nela que eu matei as larvas ( exceto duas ou três por causa das borboletas). foi ela quem eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes.
Já que ela é a minha rosa.
E voltou, então, á raposa:
- Adeus...- disse ele.
- Adeus - disse a raposa. - Eis meu segredo. É muito simple: só se pode vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
- O essencial é invisível aos olhos - repetiu o principezinho, para não se esquecer.
- Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que a fez tão importante.
- Os homens esqueceram essa verdade - disse ainda a raposa. - Mas tu não deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... - repetiu o principezinho, para não se esquecer.

O Pequeno Príncipe ( Antonie de Saint-Exupéry )


*Talvez por falta de raposas que nos ensinem, ou mesmo de tempo, os homens se esquecem cada dia mais dessa verdade, cada momento, cada sorriso, cada dor (as larvas-borboletas) com alguém que tenhamos cativado ou nos deixado cativar é eterno , pois a lembrança de quem temos realmente no coração nunca morrerá. É impossível guarda no peito aquilo que não conhecemos, mas, mais impossível ainda, é tirar dele, aquilo que apreendemos a amar...

-Como é linda sua flor! - disse ela..
- Mas eu acabei de dá-la á você...- Agora, ela é sua - disse ele..
- Ah! Se ela é minha, ela agora é muito mais bonita .... ; )

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